domingo, 9 de fevereiro de 2014

Meus partos

Muitas pessoas comentaram comigo sobre as duas últimas postagens, os relatos da Juliana e do Cristiano sobre o parto da Beatriz, primeira filha do casal. Algumas estavam encantadas com as palavras paternas, já que, infelizmente, os homens de nossa sociedade em geral não costumam expor-se com naturalidade e profundidade sobre seus sentimentos. Outras ficaram encantadas com tamanho cuidado dos dois durante os preparativos para o parto e então me perguntaram sobre os meus, me cobrando um relato aqui no blog e mesmo um link a respeito.

Já registrei aqui muitas vezes como escrever nesse espaço é uma terapia para mim, me faz muito bem elaborar os sentimentos e pensamentos em forma de relatos e ao publicá-los fico muito contente com o retorno das pessoas, me sinto mesmo parte de um grupo que também quer engrandecer-se pelas experiências vividas e trocá-los com seus pares. Mas vira e mexe fico preocupada com a grande exposição de minha vida e a de meus filhos. Quem me conhece melhor sabe que não costumo me expor com facilidade, muito menos exibir meus filhos como troféus, entrando numa competição com outras mães sobre o filho de quem é mais esperto e coisa e tal. Este blog é apenas uma maneira que encontrei de digerir  e compartilhar a experiência materna.  O assunto sobre meus partos faz parte de um leque de experiências que quis preservar para conversas "ao vivo" e com sentido, mas pela primeira vez, fiquei com vontade de socializar algumas coisinhas...

ANSIEDADES PRÉ-PARTO
Minha ansiedade maior foi pré-gravidez, pois a decisão de engravidar ou não ocupou muito mais a minha cabeça do que as questões sobre o parto. Na gravidez a ansiedade maior foi em relação aos preparativos para a chegada do Mateus. Lembro-me, por exemplo, de chorar quando fui a uma loja e a vendedora me deu uma lista "básica" e eu não sabia o que era a maioria dos itens. Por isso, até hoje tenho horror a gente que vem me dizer "você tem que ter...". A ideia é que eu não tenho que ter, mas posso ter, se achar conveniente para o meu momento. Durante a gestação da Carolina e da Isabel, passado o susto de receber duas crianças de uma vez só, fiquei um pouco assustada ao tomar conhecimento que gravidez gemelar é considerada de risco e então nem quis falar muito a respeito, apenas me cuidar e rezar.

CUIDADOS
Existem alguns cuidados básicos para quem quer manter uma gestação saudável: acompanhamento médico, alimentação (sem neuras, porque querer engravidar sem engordar é muito contraditório e perigoso) e atividades físicas (fiz hidroginástica à noite, o que me ajudava a dormir melhor). Mas acredito que tão importante quanto cuidar do corpo é cuidar de nossa mente: sentir toda a experiência, refletir sobre o que a vinda do bebê representa, imaginar o impacto dessa chegada,  mostrar-se inteiro nesse processo, tomar as decisões (se possível, em acordo com o pai) que os deixam mais tranquilos, confiantes, receber de dom grado os palpites, filtrando o que julga necessário, e abrindo-se verdadeiramente para a chegada de um novo ser que do jeito imaginado ou não, mas de qualquer maneira, transforma nossas vidas.

PARTO NORMAL
Essa sempre foi minha primeira escolha. Por quê? Às vezes para mim é mais difícil justificar o mais simples, óbvio, verdadeiro do que o contrário, mas vamos lá... O parto normal é o mais saudável para mãe e para o bebê, existe uma série de explicações mais profundas tanto do ponto de vista das diversas ciências como da espiritualidade, do racional e do emocional que chegam a essa conclusão. Além do mais, este jeito nos reconecta aos nossos antepassados, já que é o jeito mais primitivo de vir ao mundo, e para mim, o mais bonito e intenso. Tem gente que tem medo dele. Na verdade, não entendo muito bem esse medo, já que tenho medo realmente do corte e todos os riscos que a cirurgia da cesárea traz. Mas o fato é que até hoje fico espantada de ter ganhado a fama de "super mãe" por ter feito 3 partos normais, inclusive de minhas meninas gêmeas. Talvez ter encarado tudo com tranquilidade ajudou muito mais do que os demais cuidados, e claro, tive sorte, pois o trabalho de parto foi muito rápido assim não sofri com as dores. Meu médico apenas fez o parto da Isabel e infelizmente Luiz perdeu o parto de Carolina, pois estava colocando a roupa do hospital. Em compensação, Lina assistiu a irmã nascer no colo do Lu - foi um momento sublime: dar à luz a minha segunda menina com as outras sob meus olhos.

ACOMPANHAMENTO MÉDICO
Mas preciso ressaltar a importância do meu médico Dr. Luís Marcio D. Aranha Filho. Certamente seu olhar atento, sincero e cuidadoso durante a gestação me ajudou a manter a calma mesmo diante de sua ausência nos partos do Mateus e Carolina devido à rapidez com que chegaram ao mundo. Consegui me concentrar na experiência e tudo que aconteceu havia sido previsto por ele, para uma taurina como eu, isso foi bem importante. No caso de Carolina e Isabel, por exemplo, ele me preparou para a grande possibilidade de fazer uma cesárea, principalmente, quando vimos que Bebel estava numa posição transversa, o que foi positivo para que eu elaborasse a ideia de que acima de tudo o mais importante era que minhas meninas viessem bem, ainda que tivesse continuado na "fézinha" de que rolasse o parto natural. Na maternidade, por conta do rompimento da bolsa da Lina estavam preparando a cirurgia por conta do que havia relatado (sabia tudo e estava tranquila, graças ao meu médico), mas ainda bem, Lina quis sair rapidinho e tive que avisar aos presentes: "Está saindo" e logo depois anunciei: "eu vou fazer força!", e assim Linoca Tibiriroca chegou ao mundo. Sem anestesia e com muita, muita emoção. Quando meu médico chegou viu que Bebel tinha encaixado e também estava pronta para completar a maratona que vinha treinando há tempos, como diz André Trindade sobre as preparações que os bebês fazem dentro da barriga e por isso mesmo precisa ser respeitada por nós, sempre que possível. Todas nós vitoriosas! Agora e sempre na torcida para que toda a mulher tenha a chance de um acompanhamento de qualidade para sua gestação.

PARA PENSAR...
Muito se tem dito sobre os partos humanizados. Na verdade, o termo é uma contradição, já que todo parto envolve humanos. No entanto, tendo em vista o número excessivo de cesáreas desnecessárias sendo feitas no Brasil por conta de benefícios apenas aos médicos o uso do termo evoca a necessidade de repensarmos nossas escolhas, principalmente em relação àquelas que nos afastam de nossa humanidade. Parir, com a mãe e o bebê fazendo força de maneira independente e em plena sintonia, receber com afeto e cuidado nosso bebê, emocionar-se pegando-o logo no colo, inclusive, já dando de mamar em seguida são apenas alguns dos pequenos milagres que um parto normal potencializa. Isso sem mencionar algumas salas de partos nas maternidades preparadas para receber os bebês nas banheiras, por exemplo, com música e luz baixa. Um luxo, é verdade, mas novamente friso a necessidade de melhorarmos a saúde pública para todos. Agora, exatamente porque sou a favor de nossa humanidade, sei que um de nossos méritos é o de criar, inventar, melhorar nossas condições de sobrevivência. Sendo assim, nos casos em que o parto normal não podem ser feitos, sou super a favor da cesárea. Como disse, durante a gravidez das meninas meu médico me preparou para a grande possibilidade de fazer a cirurgia, o que foi importante para que lidasse com esse dado de realidade. Já vi muitas mulheres sofrerem por não conseguirem ter um parto normal, sentindo-se menos mães por isso, pois ora veja, outra contradição!

Ser mãe é um ato de amor. Tantas mulheres são mães, não porque pariram suas crias, mas porque fizeram essa escolha em seus corações e com afeto e responsabilidade assumem integralmente seus pequenos enquanto outras não se comportam como tal ainda que tenham parido. Parir é apenas uma das muitas maravilhas de ser mãe, tratemos de aproveitar!!! Assim o que desejo realmente é que sejamos cada vez mais livres para aproveitarmos essas belezuras que colocamos no mundo, pequenos seres humanos que pela simples existência já são provas de que dar à luz é um grande milagre!



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